Deus se esconde
Às vezes me pergunto, com temor e sinceridade: se Deus se esconde, quem sou eu para tentar revelá-Lo?
Essa pergunta me acompanha há anos. E cada vez que penso nela, lembro que o próprio Deus, na Sua Palavra, se apresenta como Aquele que esconde e revela:
Ao longo do tempo, compreendi algo: ocultar não é o mesmo que esconder.
Ambos os gestos são amorosos. Ambos convidam à relação.
Confesso: isso me faz sofrer. Já tentei explicar, mostrar, gritar em silêncio:
“Vocês não estão vendo? A luz está aqui!”
Durante o processo de funeral e luto pelo falecimento do meu filho, recebi muitas palavras de consolo. Algumas ficaram como ecos, outras se apagaram com o tempo. Mas três, ditas por pessoas queridas, marcaram profundamente o meu coração. Eu não as entendi na hora. Mas nunca mais as esqueci.
A primeira, dita com visível constrangimento, foi: “Airton, eu não sei como… mas esse evento é para que a glória de Deus seja manifestada na sua vida.”
A segunda, com a mesma humildade, foi: “Eu não sei como isso se encaixa aqui, Airton, mas o que vem ao meu coração é: todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.”
E a terceira… veio como um sopro, quase sem explicação: “É porque você pode suportar, Airton.”
Guardei essas três frases sem saber por quê. Hoje sei: elas foram luzes escondidas no escuro. Foram como sementes lançadas na terra ainda sem forma. E Deus, com o tempo, fez com que começassem a brilhar. Devagar. Mas brilhar.
Muitos cristãos hoje esperam um milagre, um evento, um estouro do céu. Mas andar com Deus é uma caminhada. Um processo. Eterno.
Como a fábula da galinha dos ovos de ouro: o fazendeiro, impaciente, matou a galinha para tentar encontrar todos os ovos de uma vez — e ficou sem nada.
Assim fazemos com Deus: queremos tudo agora. Revelação imediata. Mas Ele nos dá um ovo por dia. Um tesouro de cada vez.
Paulo disse aos gregos em Atenas:
E a promessa de Isaías ressoa como resposta do próprio Deus:
Ele se esconde… para que O busquemos. Ele se revela… para que O conheçamos. E Ele nos chama… pelo nome.
No fim das contas, não somos os reveladores. Somos apenas o vaso:
Deus se esconde em nós. E brilha, quando quer. Por isso, continuo caminhando. Em paz. Mesmo quando a dor me visita.
Pois sei que a luz está brilhando. Devagar. Mas está.