Eu sou terrível
“De modo formidável fui formado”, diz o salmista. Mas o que poucos percebem é que “formidável” quer dizer “terrível e maravilhoso”. E o terrível sempre vem primeiro. Por isso, o arrependimento é essencial. Não como uma exigência religiosa, mas como uma porta para o encontro com o Maravilhoso Conselheiro, o Deus Forte, o Príncipe da Paz.
Fomos ensinados desde crianças que devemos ser bons, buscar ser bons, tentar ser bons. Mas a verdade é que isso é impossível. A tradição nos moldou para escondermos quem somos — e fingirmos bondade. Quando, na verdade, o Evangelho começa com a verdade: “Eu sou mau. Eu sou terrível.” E conhecereis a verdade — e a verdade vos libertará.
Isaías viu o Senhor e exclamou: “Ai de mim!”. Pedro caiu aos pés de Jesus dizendo: “Afasta-te de mim, porque sou pecador.” Paulo declarou: “Miserável homem que sou!”. E todos eles, depois disso, foram tocados pelo Maravilhoso Conselheiro. Não existe encontro com o Maravilhoso sem antes se deparar com o terrível que somos.
Jesus disse: “Eu vos dou a minha paz.” Mas essa paz não vem antes do confronto — ela é fruto da rendição. Cristo não nos dá uma paz anestésica. Ele é o árbitro. E como todo bom árbitro, Ele apita quando há falta. Não para nos condenar, mas para nos afirmar e nos corrigir, para que o jogo continue — em paz. Ele nos aponta a verdade, para que possamos seguir em liberdade.
“Que a paz de Cristo seja o árbitro em seus corações.” Ele é quem decide o que fica, o que sai, o que é de valor eterno. Não vivemos mais segundo a ilusão de que somos bons — mas segundo a verdade de que Ele é bom, e vive em nós.
Foi extremamente libertador para mim reconhecer que eu sou mau e que eu sou terrível. Porém, quando compartilho isso com amigos e conhecidos, eles reagem dizendo: “Você não é assim, Airton.” Isso parece não caber no entendimento deles. Mas foi justamente ao reconhecer essa verdade que encontrei descanso. Deixei de tentar ser bom — e Cristo pôde viver em mim.
“O árbitro apita, não para nos punir, mas para nos lembrar que o jogo só continua em paz quando Cristo está no campo.”