A Justiça de Deus
Durante muitos anos, ouvi e repeti explicações mirabolantes sobre a justiça de Deus. Tentativas complexas de justificar o sofrimento, de harmonizar castigo e amor, de defender Deus diante da dor humana. Nada disso me satisfez. No fundo, algo permanecia confuso, contraditório, fora de lugar.
Até que, enfim, vi. Eureka!
A justiça de Deus não é a aplicação fria da lei, nem o castigo merecido ao culpado. É uma manifestação viva da graça, do perdão e do amor que não reage com vingança, mas com reconciliação. E sua beleza está exatamente na simplicidade com que se manifesta:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
Na linguagem espiritual, Deus é o Justo Juiz. Jesus é o Advogado. O Espírito Santo é o Conselheiro. E nós somos as testemunhas.
Mas tudo isso se manifesta num tribunal completamente diferente do humano. Não há vingança. Há entrega. Não há acusação. Há perdão. Não há imposição de direitos. Há renúncia por amor.
O direito humano tenta se firmar na justiça própria. A verdadeira justiça de Deus é fundamentada em algo mais alto: a misericórdia.
Como está escrito:
“Tenham em vocês o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus… a si mesmo se esvaziou… a si mesmo se humilhou… tornou-se obediente até à morte.” (Fp 2:5–8)
Ele tinha todos os direitos — e não reivindicou nenhum. Isso é justiça para Deus.
Quem vive no Espírito percebe que:
– O direito quer se defender.
– A justiça de Deus se entrega.
– O direito exige o que é seu.
– A justiça de Deus abre mão do que é seu para não prejudicar o outro.
– O direito acusa.
– A justiça de Deus perdoa.
E essa justiça não se acessa com argumentos, mas com louvor, gratidão e rendição:
“Entrai pelas portas dele com ações de graças…” (Sl 100:4)
“Em tudo dai graças… Não atrapalhem o Espírito.” (1 Ts 5:18-19)
“Levantem, ó portas… e entrará o Rei da Glória.” (Sl 24:9)
“Encham-se do Espírito… dando sempre graças por tudo…” (Ef 5:18-21)
“Considerem motivo de toda alegria passar por várias provações…” (Tg 1:1-3)
E quando Paulo e Silas cantam na prisão, o que se abre não é apenas uma porta física — é a manifestação da justiça de Deus: louvor no meio da dor, liberdade no meio da opressão, luz no meio da injustiça.
“Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (Mc 12:17)
A justiça dos homens tem seu lugar. Quem comete crimes deve responder diante da lei. Isso é de César. Mas no nosso coração — no lugar onde habita o Espírito — o outro está perdoado. Não se trata de vingança. Trata-se de reconciliação.
“Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal…” (Hc 1:13)
Deus não foca na culpa. Ele olha para a restauração. E nos ensina a fazer o mesmo.
Por isso, “justiça para Deus” é diferente de “justiça para os homens”. A justiça de Deus é amor posto em movimento. É perdão oferecido antes mesmo do arrependimento. É a luz que brilha até ser dia perfeito.
“… é agradável a Deus e aprovado pelos homens.” (Rm 14:18)
E como encerra a bênção apostólica: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” (2 Co 13:13)
Essa é a medida da justiça de Deus: perdoar, amar e servir inclusive quem faz o mal contra nós.
Todo escravo precisa ser liberto. E quem pratica o mal é, na verdade, escravo do mal.
Somente a bondade de Deus pode produzir a verdadeira mudança de atitude.
“O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.” (Rm 14:17)
“A justiça de Deus se revela … de fé em fé…” (Rm 1:17)
“O meu justo viverá pela fé.” (Hb 10:38 / Hc 2:4)
“É em paz que se semeia o fruto da justiça.” (Tg 3:18)
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9)
Essas palavras, antes fragmentadas, agora fluem como um só rio.
O Espírito nos faz ver que a justiça de Deus não é conceito — é caminho.
E esse caminho é de paz, de fé, de amor, de reconciliação.
Nós nos gloriamos na esperança da justiça que provém da fé —
e que floresce pela paz, atua pelo amor e se revela aos simples.
Essa revelação me levou a compreender, enfim, o que significa:
“O meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”
E creio, com alegria antecipada, que tudo isso culminará em breve
com o júbilo, com a explosão da alegria dos que foram libertos pelo amor.