Autoajuda ou Ajuda do Alto
Vivemos cercados por frases de autoajuda: “Acredite em si mesmo.” “Você pode tudo.” “Basta querer.” Elas nos prometem que, com esforço e foco, seremos capazes de transformar nossa vida e nosso caráter. Mas será mesmo?
A Bíblia — e a experiência humana honesta — nos dizem outra coisa.
Nós gostamos de acreditar que podemos mudar a nós mesmos, porque isso alimenta nosso orgulho. Confiar no próprio braço nos dá uma falsa sensação de controle. Mas a Palavra de Deus é clara: “Maldito o homem que confia no homem, que faz do braço mortal a sua força.” (Jeremias 17) — isso significa principalmente não confiar em nós mesmos. Salomão alertou: não se firme no seu próprio entendimento.
O resultado? Estamos muitas vezes debaixo de maldição sem nem perceber, porque vivemos tentando operar uma mudança que só Deus pode fazer.
Podemos ser rigorosos, ascéticos, disciplinados. Podemos jejuar e vigiar, mas, como Paulo escreveu, “essas coisas têm aparência de sabedoria, mas não têm valor real para conter os impulsos da carne.” (Colossenses 2:23) — não têm valor algum contra a sensualidade.
O esforço humano não dura. Ele quebra, cansa e desanima. No máximo, produz mudanças superficiais — jamais transforma o coração.
O Salmo 139 diz que fomos formados de modo formidável, palavra que carrega dois sentidos: terrível e maravilhoso. Há em nós algo grandioso, mas também profundamente corrompido. Não reconhecer o terrível nos mantém cegos e orgulhosos; reconhecer nos leva a buscar o maravilhoso que só Deus pode produzir.
O maior pregador de todos os tempos admitiu: “O bem que eu quero, eu não faço; o mal que eu não quero, esse continuo fazendo.” (Romanos 7) Se Paulo não confiava em si mesmo, por que nós deveríamos confiar?
Ele entendeu: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor.” Não há libertação sem Cristo. Não há transformação sem o Espírito.
Jesus foi direto: “Eu sou a videira, vocês são os ramos. Sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma.” (João 15)
Não é que podemos fazer pouco. É nada. Tudo o que dura e frutifica vem da permanência nEle, não do esforço humano.
Por fim, a fé é mais do que acreditar em algo abstrato. Ela é a certeza de que o mundo espiritual e invisível interfere e transforma o visível. Hebreus 11:1 diz: “Fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem.” A fé é a certeza da esperança e a prova do invisível.
E Hebreus 11:6 nos lembra: “Sem fé é impossível agradar a Deus.” Não porque Deus seja exigente, mas porque sem fé permanecemos tentando agradá-lo pelas obras, pelo esforço próprio — e isso nunca será suficiente. Só a confiança nEle abre espaço para que Sua graça opere.
E há um segredo profundo nisso: “Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração.” (Salmo 37:4) Não agradamos a Deus pelo que fazemos, mas pelo nosso coração que se volta para Ele, descansando e confiando. Ele não é movido por nossa performance, mas pelo nosso relacionamento.
Sem fé, ficamos presos no mundo visível, tentando resolver tudo com nossas próprias mãos — e falhamos. Com fé, nos rendemos ao agir de Deus, e Ele faz o que não podemos: o impossível.
Tudo isso nos leva a um ponto profundo: é Deus quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar, segundo a boa vontade dEle. (Filipenses 2:13) Até o desejo de buscá-lo não nasce de nós mesmos.
Jesus também disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair.” (João 6:44) Nossa dependência dEle é total — desde o primeiro movimento do coração até cada transformação real em nossa vida.
A autoajuda morre na porta do Evangelho. O Evangelho não nos convida a nos ajudar, mas a nos render. Ele não diz: “Você consegue.” Ele diz: “Você precisa nascer de novo.”
Aceitar isso não é fácil — mas é libertador. Só quem reconhece sua total incapacidade está pronto para receber a verdadeira vida que vem do Espírito.
Isso não é uma mensagem de condenação, mas de esperança. Saber que não podemos mudar a nós mesmos não nos afunda — nos libera para parar de lutar sozinhos e descansar na obra perfeita de Cristo, agora sendo formado em nós.
Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.