O Pecado
Durante muito tempo, eu acreditei — como tantos outros — que pecado era simplesmente errar, quebrar regras, fazer o que Deus não quer. Acreditava também que já nasci à imagem e semelhança de Deus, e que o arrependimento era mudar de comportamento, fazer o bem, evitar o mal.
Mas há pouco tempo, algo começou a incomodar dentro de mim.
As palavras das Escrituras já conhecidas voltaram a brilhar com outra luz.
E eu percebi, com temor e com alegria, que o problema é mais profundo — e a graça, muito maior do que eu imaginava.
O que vou compartilhar a seguir não é uma doutrina nova.
É uma revelação antiga, eterna, mas que o Espírito começou a me mostrar com clareza só agora.
Talvez você já a tenha percebido. Talvez ainda não. Mas se abrir o coração, o Espírito também te mostrará.
Essa é a minha confissão, a minha descoberta, e também meu clamor:
que Cristo seja formado em nós — e que deixemos de confiar em nós mesmos, para viver a partir dEle, pela fé.
Durante muito tempo eu achei — como muitos cristãos sinceros ainda acham — que já havia sido criado à imagem e semelhança de Deus. Afinal, era isso que me haviam ensinado.
Mas não é bem isso que as Escrituras revelam.
Sim, Gênesis 1:26 diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.”
Mas em Gênesis 5:3, após a queda, lemos que Sete nasceu à imagem e semelhança de Adão, não de Deus.
O que isso revela?
Que a imagem de Deus é uma promessa, não um ponto de partida.
Que nascemos com um potencial, uma vocação — mas separados de Deus.
E tudo o que nasce de Adão, nasce em separação, morte, incredulidade.
“O Senhor viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que toda inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal.” (Gênesis 6:5)
Mesmo quando fazemos o bem, fazemos por nós.
Confiamos em nós.
Essa é a raiz de todo pecado: a autoconfiança.
Pecado, portanto, não é simplesmente transgredir mandamentos.
Não é apenas roubar, matar, mentir ou cometer adultério.
É confiar em si.
É viver por si.
É agir a partir de si.
A tradição chamou de pecado o que se vê.
Jesus revelou o que está oculto:
“O pecado é que não creem em mim.” (João 16:9)
Não crer em Jesus é continuar acreditando em si.
É viver desconectado, mesmo frequentando igrejas e fazendo boas obras.
E é por isso que a Lei, embora santa, nunca aperfeiçoou ninguém.
Como diz Hebreus 7:
“Pois a Lei nada aperfeiçoou, e por outro lado, introduz-se uma esperança superior, pela qual nos aproximamos de Deus.”
A Lei, aliás, desperta algo perverso em nós.
Porque nós gostamos da Lei.
Ela nos dá uma régua para medir os outros.
Nos faz sentir “certos”, nos permite acusar — e nós gostamos disso.
Paulo escreveu:
“O pecado, aproveitando-se do mandamento, produziu em mim toda espécie de desejo mau.” (Romanos 7:8)
A Lei incita o pecado — porque o pecado ama parecer justo.
O ego ama ter razão.
E a religião se alimenta disso: de esforço, comparação, acusação e culpa.
Mas então veio Jesus.
Não nascido de José.
Não herdeiro da carne de Adão.
Gerado pelo Espírito Santo.
O único homem que nunca confiou em si mesmo.
O único que viveu em perfeita comunhão com o Pai.
O único sem pecado — porque foi gerado pelo Espírito, viveu como um ser humano comum e para nos mostrar o Caminho recebeu o Espírito Santo após o batismo — e nunca esteve separado.
E é por isso que Ele nos chama ao arrependimento.
Mas não ao arrependimento moralista.
Não ao choro de culpa.
Não ao remorso por ter errado.
O arrependimento que Jesus espera é muito mais profundo:
É parar de acreditar em si mesmo.
É renunciar à confiança no próprio juízo, na própria justiça, na própria força.
Mas isso, como foi dito, não é fácil.
Porque confiar em si está no nosso hardware.
É a natureza adâmica operando em nós desde o nascimento.
Por isso, o arrependimento não é algo que fazemos.
É algo que nos acontece, quando cremos.
É uma rendição.
É uma entrega.
É o reconhecimento de que, sem Ele, tudo em mim é sempre e somente para o mal — mesmo quando parece bom.
Foi por isso que Jesus deu um novo mandamento.
Não para substituir uma lista por outra — mas para introduzir um novo modo de viver:
“Amem-se uns aos outros como eu os amei.” (João 13:34)
Na antiga aliança, a medida era: “Ame o próximo como a si mesmo.”
Mas agora, eu não sou mais a referência. Jesus é a referência.
Esse amor só pode ser vivido em Cristo — por meio do Espírito que Ele nos deu.
É o Espírito que nos capacita a perdoar.
E quando perdoamos, o Pai perdoa em nós.
Não é mais o eu vivendo — é Cristo.
Foi por isso que Jesus nos alertou:
“Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” (João 15:5)
Nada. Nenhuma obra. Nenhum amor verdadeiro. Nenhum perdão real.
Mesmo as nossas melhores intenções, sem o Espírito Santo, continuam sendo fruto do eu — e, portanto, continuam em pecado.
Sem o Espírito, continuamos em Adão.
Mesmo “fazendo o bem”, continuamos separados.
Mesmo “obedecendo à Bíblia”, continuamos operando a partir da carne.
É por isso que o arrependimento não é apenas mudar de direção —
é mudar de fonte.
Esse é o arrependimento que salva:
sair de si, entrar em Cristo, e receber dEle graça sobre graça.