O Tempo

O Tempo

O Tempo

O Tempo Que Se Revela aos Simples

Despertar para o invisível

Desperta, tu que dormes…
Levanta-te dentre os mortos, e Cristo resplandecerá sobre ti.
(Efésios 5.14)

Vivemos num mundo em que o tempo é medido por relógios e calendários.
Mas há um outro tempo, que não se marca com ponteiros:
é o tempo espiritual, o kairos.
O momento certo. A chance escondida no ordinário.
A eternidade tocando o instante.

É esse tempo que o Espírito nos convida a perceber.
Mas só os despertos o reconhecem.
Só os simples o recebem.

Kairos: o tempo que não se mede

Lembro de um professor que dizia:
“A didática não ensina nada.”

Hoje entendo o que ele queria dizer.
Você pode explicar, repetir, desenhar…
Mas só o poder de Deus abre os olhos espirituais.

Como disse Jesus:
“Vocês estão enganados, porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus.”

A sabedoria humana nos complica.
Nos enche de conceitos, certezas e respostas.
Mas é o Espírito que revela o que está escondido,
não no conteúdo, mas no momento.

Quando esquecemos do momento: a queda na tentação

O diabo também conhece esse tempo.
Quando ele deixou Jesus no deserto, foi “até ocasião oportuna” (kairos).
Ou seja: ele também espera o momento certo — não para abençoar, mas para corromper.

E quando caímos em tentação, é porque esquecemos que estávamos vivendo um kairos.
Dormimos bem na hora em que o céu estava esperando um sim.
É por isso que Jesus disse:
“Vigiem e orem, para que não caiam em tentação.”

Portais eternos: nós somos o lugar da visitação

“Levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória.”
(Salmo 24)

O Espírito não força entrada.
Ele bate.
E espera que o portal se levante.

Nós somos esse portal.
Criados para abrir passagem entre o invisível e o visível.
Para deixar o céu tocar a Terra — por meio de nós.

A simplicidade que abre portas

Hoje entendo com mais clareza:
O Senhor só se revela a seres humanos.

Humanos no sentido mais puro:
simples, humildes, descomplicados.

Eu mesmo vivi muito tempo complicado.
Cheio de sabedoria, ideias, teorias.
Mas não via.
Não percebia o kairos, ainda que ele estivesse diante de mim.

Agora, com olhos mais limpos e coração mais leve, vejo o kairos se repetir.
Com frequência.
Com insistência.
Como se o Espírito dissesse:
“Estou aqui de novo. Agora você vê?”

O kairos se repete. Você vê agora?

Porque o kairos não se ensina. Se revela.

E não se revela a quem busca dominar, mas a quem aceita ser dominado.
A quem já não quer ter razão, mas deseja ver.
A quem abre o portal, mesmo tremendo.

Como viver desperto para o kairos

Paulo nos mostra o caminho:

“Alegrem-se sempre.
Orem continuamente.
Dêem graças em todas as circunstâncias,
pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.
Não atrapalhem a ação do Espírito Santo.
Não tratem com desprezo as profecias,
mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom.”
(1 Tessalonicenses 5.16–21, NTLH)

Aqui está a vida no kairos:
– Alegria constante, mesmo nos dias maus.
– Oração contínua, como quem vive em ligação permanente com o alto.
– Gratidão em tudo, mesmo quando o momento parece comum.
– Atenção ao Espírito, para não atrapalhar sua ação.
– Discernimento, para reconhecer a voz de Deus em meio às vozes.

Porque viver no kairos não é viver correndo.
É viver acordado.

Não é fazer muito.
É perceber quando Deus quer agir — e abrir espaço.

Cristo está diante de nós.
O momento é agora.
O céu bate à porta.

Desperta, tu que dormes.
Levanta-te.
Deixa o Rei da Glória entrar.

Epílogo — Eu também perdi muitos momentos

Jerusalém não reconheceu o tempo da sua visitação.
E eu… eu também não reconheci muitas vezes.
O Senhor bateu, e eu estava ocupado.
Ele sussurrou, e eu estava explicando.
Ele se aproximou, e eu estava distante — mesmo falando d’Ele.

Eu também matei profetas —
quando rejeitei vozes que traziam luz.
Quando defendi estruturas que me mantinham cego.
Quando escolhi o controle, a certeza, o saber… em vez da presença.

Hoje, enquanto escrevo, não estou ensinando.
Estou sendo ensinado.
Esses textos são registros da minha própria visitação.
Do Espírito me acordando, me limpando, me desconstruindo.

Eu não prego nada que não esteja acontecendo primeiro em mim.
E a verdade é que eu anseio profundamente pela manifestação do poder de Deus —
não para exibir nada,
não para provar nada,
mas para tocar corações humanos como o meu foi tocado.

Se, por meio desse blog, uma só alma perceber o kairos do Espírito,
então terá valido cada lágrima, cada perda, cada linha escrita em dor e esperança.

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