Tu me amas?

Tu ne anas

Tu ne anas

“Tu me amas?” — Quando o Verbo fala com ternura a um coração quebrado

A cena após a noite escura

O mar já havia sido cruzado, o peixe pescado, e a fogueira estava acesa. O Cristo ressurreto não aparece com glória, mas com pão e peixe sobre as brasas. Tudo é silenciosamente grandioso. E é nesse ambiente simples e íntimo que acontece um dos diálogos mais delicados das Escrituras.

Simão, filho de João: o chamado à origem

Jesus não o chama de Pedro, nome que Ele mesmo lhe dera. Volta à raiz: Simão, filho de João. Talvez não como reprovação, mas como quem volta ao começo, ao ponto onde tudo começou, antes da queda, para restaurar desde o princípio.

Agape e Phileo: o primeiro amor

Jesus pergunta com o verbo agapao — “você me ama com o amor total, incondicional, acima de todos os outros?”. Pedro responde com o verbo phileo — “Senhor, tu sabes que te tenho muito carinho.” É a honestidade de quem já tentou ser forte e falhou. Antes, ele dissera: “Ainda que todos te abandonem, eu nunca.” Agora, não ousa mais se comparar.

A segunda pergunta: o convite permanece

Jesus insiste, mas desta vez sem a comparação com os outros: “Simão, filho de João, você me ama?” Ainda é o ágape, mas Pedro permanece em seu phileo. A distância entre as palavras revela o abismo entre a intenção divina e a condição humana. Mas o diálogo continua — porque o amor não exige, convida.

A terceira vez: Jesus desce ao nível de Pedro

Na terceira vez, Jesus muda a pergunta. Ele usa phileo: “Simão, filho de João, você me ama com esse amor que você consegue me dar?” Pedro se entristece, não porque Jesus repetiu a pergunta, mas porque percebe que Jesus mudou o verbo. É como se dissesse: “Você tem certeza, Pedro, desse carinho que diz sentir por mim?” A dor está em ser profundamente conhecido e ainda assim profundamente amado.

Três respostas, três comissões

A cada resposta, ainda que limitada, Jesus responde com uma missão: “Cuide dos meus cordeiros.” “Pastoreie as minhas ovelhas.” “Cuide das minhas ovelhas.” O amor imperfeito é aceito — e é suficiente para confiar a Pedro o que há de mais precioso: vidas.

A linguagem do Espírito

Jesus não impõe o ágape. Ele aceita o phileo. Ele não exige perfeição para confiar uma missão. Ele se revela como o Deus que desce até o nível da nossa sinceridade — e ali nos restaura. A linguagem de Jesus não é apenas grega. É a linguagem do Espírito. É a linguagem do Amor que compreende, acolhe e transforma.

O amor que se torna possível

Pedro não foi rejeitado por amar pouco. Foi restaurado por amar sinceramente. E esse amor, ao longo do tempo, cresceria — até o ponto de dar sua própria vida por Aquele a quem antes negara.

Conclusão

Cristo é quem nos fortalece — por meio do Espírito que habita em nós.